Os efeitos das chuvas intensas na lavoura e como proteger sua safra?

Cristiane Reis
11 de nov.
3 min de leitura

Quando a chuva deve ser aliada

A água da chuva é essencial para o crescimento das culturas, mas em excesso, ela pode se tornar um dos maiores inimigos do agricultor. Nas últimas safras, muitos produtores enfrentaram perdas severas devido à intensidade e irregularidade das precipitações. Além dos alagamentos visíveis, há impactos silenciosos que comprometem a produtividade das lavouras, muitas vezes sem que o produtor perceba de imediato.

Excesso de umidade no solo favorece doenças de solo, dificulta a aplicação de defensivos, reduz a absorção de nutrientes pelas raízes e ainda atrapalha o enraizamento adequado das plantas. Esses efeitos combinados resultam em plantas mais fracas, suscetíveis a patógenos e menos produtivas.

Impactos fitossanitários: um alerta vermelho

As chuvas contínuas criam um ambiente propício para doenças como a podridão radicular, damping-off, ferrugens, antracnoses e manchas foliares. O ciclo dos patógenos se acelera com a alta umidade, dificultando o manejo e tornando o controle químico menos eficaz. Em culturas como soja, milho e hortaliças, esse ambiente favorece a infecção e a rápida disseminação das doenças.

Além disso, o tempo chuvoso impede a entrada dos equipamentos no campo para aplicações preventivas, atrasando o calendário de manejo e aumentando os riscos de perdas. Um dia de atraso pode ser suficiente para uma infecção comprometer a produtividade de todo o talhão.

Efeitos no solo: compactação e desestruturação

Quando o solo permanece encharcado por longos períodos, suas propriedades físicas se deterioram. A compactação, causada pelo trânsito de máquinas em solo úmido, reduz a porosidade e impede a penetração das raízes. A água em excesso também favorece a lixiviação de nutrientes como o nitrogênio, comprometendo a nutrição da cultura.

Em solos argilosos, o problema se intensifica: a infiltração da água é mais lenta, o escoamento superficial aumenta e o risco de erosão se torna evidente. A perda de solo fértil representa um impacto duradouro que compromete várias safras futuras.

Como proteger sua safra dos efeitos das chuvas?

O primeiro passo é monitorar a previsão climática com frequência. Ferramentas digitais e aplicativos ajudam a antecipar janelas de aplicação de defensivos, semeio e colheita. Em segundo lugar, é essencial adotar um manejo integrado, que inclua uso de produtos biológicos, multissítios e tratamentos preventivos de sementes.

Outra estratégia fundamental é a escolha de cultivares adaptadas a regiões com alta pluviosidade, com resistência genética a doenças de solo e foliares. Além disso, sistemas de plantio direto e rotação de culturas ajudam a manter a estrutura do solo e a reduzir os riscos de erosão.

Investir em drenagem eficiente e curvas de nível também protege áreas críticas da propriedade. Em áreas propensas a alagamentos, canais ou valetas podem fazer a diferença entre perder ou salvar a produção.

Biológicos e multissítios: aliados estratégicos

O uso de defensivos biológicos com ação antagônica contra patógenos ganha cada vez mais espaço, principalmente por sua atuação mesmo em condições adversas. Já os multissítios, por não dependerem de um único ponto de ação, têm eficácia mais estável, mesmo quando o ambiente favorece a pressão de doenças.

Essas ferramentas, quando usadas estrategicamente, não apenas controlam os patógenos, mas também prolongam a vida útil dos fungicidas tradicionais, retardando a seleção de resistência.

Conclusão

As chuvas intensas não podem ser controladas, mas seus efeitos podem — e devem — ser gerenciados. O sucesso da sua safra depende da sua capacidade de antecipar riscos, adotar tecnologias e planejar com inteligência. O que hoje parece um desafio incontrolável, amanhã pode ser o diferencial competitivo do produtor preparado.

A fitossanidade é a base da produtividade — negligenciá-la é correr riscos desnecessários.